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Falar sobre mim é falar sobre uma busca incessante pelo sentido das coisas, pelos porquês, por como se construíram os discursos e os padrões sociais. Esta atitude diante da vida foi acionada quando os trabalhos de agulha se alinharam a forma de pensar sobre mim e de me expressar. Junto com esta prática, profundamente prazerosa, entrei em contato com um universo de práticas sociais e econômicas a ela associadas, padronizadas diante das quais nos acomodamos aos discursos de um fazer feminino que expressa as características da possível feminilidade de delicadeza, cuidado e paciência.

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O contato com mulheres que fazem desta prática um trabalho, nas condições mais adversas, nos mostra a sua face mais cruel, seu caráter exploratório e de controle social, maquiados pelo discurso do empoderamento feminino por meio do trabalho e da sua associação com práticas econômico-culturais, que têm, por sua vez, nos bordados praticados por um grupo socialmente privilegiado sua fonte de construção de um determinado estereótipo associado aos bordados.

Todas estas inquietações fizeram com que a minha prática se tornasse uma forma de pensar sobre os bordados de uma perspetiva pessoal e combativa, buscando pelos seus meios de resistência, pelas histórias contadas entre paredes em rodas de conversas espontâneas enquanto se tem uma agulha na mão.

Assim, venho, ao longo do tempo, desenvolvendo pesquisas acadêmicas que me ajudem a compreender todas estas questões, a construir um arquivo pelo avesso, que parte da minha prática e vai ao encontro de outro, outra, outres e de quem mais tenha na inquietação um terreno fértil de criação artística e luta política.

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